Como Agir para proteger crianças e adolescentes da violência sexual
Crianças e adolescentes são cidadãos de direitos e em condição especial
de desenvolvimento, precisando do apoio, orientação e proteção de nós
adultos.
A responsabilidade de proteger meninos e meninas contra crimes como o
abuso e a exploração sexuais não é apenas do Estado ou da família, mas
de todos nós! Este dever está previsto na Constituição Brasileira!
O abuso é qualquer ato de natureza ou conotação
sexual em que adultos submetem menores de idade a situações de
estimulação ou satisfação sexual, imposto pela força física, pela ameaça
ou pela sedução. O agressor costuma ser um membro da família ou
conhecido. Já a exploração pressupõe uma relação de
mercantilização, onde o sexo é fruto de uma troca, seja ela financeira,
de favores ou presentes. A exploração sexual pode se relacionar a redes
criminosas mais complexas e podendo envolver um aliciador, que lucra
intermediando a relação da criança ou do adolescente com o cliente.
Não se omita, nem se cale frente a uma suspeita ou caso comprovado de violência sexual infantojuvenil:
Jornalista:
O jornalista tem um papel muito importante na sociedade. Quando falamos dos direitos das crianças e dos adolescentes, esse papel vem carregado de uma imensa responsabilidade. É fundamental denunciar abusos e violências, a omissão e negligência frente a estes crimes, além de cobrar políticas públicas eficientes. Também é fundamental informar caminhos para a prevenção, punição do agressor e ação das instituições de proteção e atendimento às vítimas.Mas as matérias devem ser produzidas com alguns cuidados. Principalmente quando o assunto é violência sexual, um assunto incômodo e delicado, muitas vezes acobertado por pactos de silêncio, descaso e tabu.
Uma postura comprometida e ética do profissional de comunicação não se restringe ao simples registro e denúncia dos fatos, passando pelo aprofundamento no tema, numa abordagem sob o olhar dos direitos humanos.
Retratar os personagens preservando sua imagem é um desafio na cobertura jornalística e talvez seja um dos motivos desta ainda ser uma pauta pouco divulgada, principalmente em televisão. Com criatividade, no entanto, é possível fazer um bom trabalho de conscientização da sociedade sem revitimizar as crianças e adolescentes que sofreram violência.
Dicas para uma boa reportagem
- Invista na qualidade de informação para mobilizar a sociedade na busca de soluções
- Ouça todos os lados da história (vítimas, agressores, familiares, especialistas, mediadores), com pontos de vista divergentes.
- Ofereça serviços (como denunciar, indicar instituições que oferecem apoio, serviços especializados e ONGs.).
- Trate as crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual respeitando sua condição de pessoa em desenvolvimento.
- Produza discurso ético e contextualizado na reportagem, com linguagem acessível.
- Discuta o sistema de recuperação de agressores e de assistência às vítimas.
- Acompanhe o inquérito policial e atualize a população sobre os desdobramentos do caso.
- Consulte os especialistas e autoridades responsáveis pelo problema, mas fuja da cobertura baseada apenas em boletins de ocorrência.
- Utilize linguagem didática e adequada para a faixa etária ao abordar o assunto em suplementos infantis e juvenis
- Aprofunde a cobertura e amplie a repercussão do caso com suítes (continuação das matérias do mesmo tema)
- Apure o que há por trás do abuso sexual (valores culturais, questões socioeconômicas, de gênero e etnias, problemas de educação e saúde).
- Leia publicações especializadas e participe de encontros e seminários para se aprofundar no tema.
- Analise o que leva a sociedade a interpretar erroneamente a questão da culpabilidade da vítima.
Equívocos da imprensa
Crimes sexuais contra crianças e adolescentes têm forte apelo
emocional e levantam a ira da opinião pública. Os profissionais de
imprensa, no entanto, devem redobrar a atenção ao tratar de suspeitas e
acusações de abuso e exploração sexual para que não cometam equívocos na
cobertura jornalística.Cuidado com sensacionalismo e julgamento precipitados, que podem ocasionar sérios danos à imagem e à integridade física de uma pessoa. O acusado só pode ser considerado agressor em casos de flagrante, de confissão ou quando a sentença já estiver determinada.
Nunca use crianças e adolescentes em reportagens se for para perguntar sobre a violência sofrida. Isso gera revitimização e sofrimento, além de uma exposição desnecessária na mídia que pode, até mesmo, colocar a vida delas em risco. Mesmo que o nome, imagem e voz sejam preservadas, há outras informações como cidade, rua, fachada da residência, etc., que podem identificar a vítima, violando os seus direitos.
Cuidado com imagens e palavras
Para quem trabalha com filmagem ou fotografia, um dos grandes desafios é como retratar os entrevistados. Assim como a palavra mal empregada, a imagem também pode reforçar preconceitos e tabus.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê a preservação da imagem. Muita gente acaba lembrando da tarja preta nos olhos, nestes casos, mas este recurso não deve ser utilizado, porque costuma estar relacionado com a marginalidade e não impede o reconhecimento da pessoa.
A reportagem pode ser ilustrada usando o bom senso e a criatividade por meio de outros recursos técnicos como:
- Desfocalização e distorção da voz
- Usar imagens de partes do corpo isoladas, como mãos e pés
- Imagens de objetos e situações que remetam à infância
- Silhuetas refletidas em superfícies capazes de distorcer formas
- Sombras explorando perfil
Mas lembre-se, evite perguntar sobre a violência sofrida, ainda que se preserve a imagem da criança ou adolescente.
Para os textos jornalísticos, a terminologia usada exige muita atenção para não apelar para o sensacionalismo e não prejudicar o entendimento do fenômeno.
- Não confunda notificação (a comunicação de uma situação de maus-tratos para o Conselho Tutelar ou para uma Vara da Infância e Juventude) com denúncia (quando o promotor de justiça formaliza a acusação, dando início a uma ação penal).
- Meninos e meninas são sempre vítimas exploração sexual e nunca de prostituição, que é exercida apenas a partir da escolha consciente de adultos que conhecem as conseqüências de comercializar o próprio corpo.
- O termo menor também não deve ser utilizado para falar sobre crianças e adolescente. Veja outros termos no Glossário: http://www.childhood.org.br/entenda-a-questao/glossario
Saiba mais:
- Orientações de Comunicação sobre violência sexual contra crianças e adolescentes:
http://www.childhood.org.br/orientacoes_de_comunicacao_sobre_o%20tema_20101209.pdf - Glossário: http://www.childhood.org.br/entenda-a-questao/glossario
- Andi.org.br: http://www.andi.org.br/
- Jornalismo Investigativo – O concurso Tim Lopes:
http://www.childhood.org.br/programas/concurso-tim-lopes-de-investigacao-jornalistic
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança
e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
Art. 227º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988.
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